Lendo o livro Nem Água, nem Lua do Osho fui mais uma vez, maravilhosamente surpreendido por uma reflexão fantástica. Vejam o conto a seguir:
Certa vez, o
Primeiro-Ministro de um grande rei morreu. Esse Primeiro-Ministro era
uma pessoa muito rara, muito inteligente, quase um sábio; era esperto,
sagaz, um grande diplomata. Seria muito difícil encontrar alguém que
pudesse substituí-lo. Então, todo o reinado foi pesquisado. Todos os
ministros foram enviados para procurar por três homens. Um desses três
seria o escolhido pelo rei para ser o novo Primeiro-Ministro.
Durante meses a procura continuou. Todo o reinado foi vasculhado; todos os recantos e esquinas foram pesquisados. Então, três pessoas foram encontradas. Uma delas era um grande cientista, um grande matemático. Ele podia resolver qualquer problema de matemática, e a Matemática é realmente a única ciência positiva; todas as ciências são apenas ramos da matemática. Assim, ele se achava na base.
Durante meses a procura continuou. Todo o reinado foi vasculhado; todos os recantos e esquinas foram pesquisados. Então, três pessoas foram encontradas. Uma delas era um grande cientista, um grande matemático. Ele podia resolver qualquer problema de matemática, e a Matemática é realmente a única ciência positiva; todas as ciências são apenas ramos da matemática. Assim, ele se achava na base.
O
outro era um grande filósofo, um grande criador de sistemas. Do nada
ele podia criar tudo. A partir apenas de palavras, ele podia criar
sistemas maravilhosos -- era milagre. Apenas os filósofos podem fazer
isso. Eles não têm nada em suas mãos; são grandes mágicos. Criam Deus,
criam a 'teoria da criação', criam tudo; e sem nada em suas mãos. São
brilhantes artesãos de palavras, combinam as palavras de tal modo que
lhe dão a sensação de substância. E isso sem nada!
O
terceiro era um homem religioso, um homem de fé, de prece, de devoção.
As pessoas que estavam procurando esses três homens devem ter sido muito
sábias, porque encontraram os três.
Esses
três homens representam as três dimensões da consciência. Elas são as
únicas possibilidades: ciência, filosofia e religião -- formam a base. O
homem de ciência interessa-se por experimentos: a menos que algo seja
provado pelos experimentos, não está provado. Ele é empírico,
experimental; sua verdade é a verdade do experimento.
O
homem de filosofia é o homem da lógica, não dos experimentos;
experimentar não é a questão. Apenas pela lógica ele prova e refuta. Ele
é um homem puro, mais puro do que o cientista, porque o cientista tem
de carregar seus experimentos, seu laboratório. Um homem de filosofia
trabalha sem laboratório -- apenas com sua mente, com a lógica, com as
matemáticas mentais. Todo o seu laboratório está em sua mente Ele pode
provar e refutar apenas pelos argumentos lógicos. Ele pode resolver ou
criar qualquer tipo de enigma.
O
terceiro homem está na dimensão da religião. A vida não é problema para
um homem religioso. Ela não existe para ser solucionada; existe para
ser vivida.
O
homem religioso é o homem da experiência; o cientista é o homem dos
experimentos; e o filósofo é o homem dos pensamentos. O homem religioso é
o homem da experiência: ele olha a vida como algo a ser vivido. Se
existe alguma solução, ela virá pela experiência, virá pela vida. Nada
pode ser decidido de antemão pela lógica porque a vida é maior do que a
lógica. A lógica é apenas um bolha no vasto oceano da vida. Assim, a
lógica não pode explicar tudo. Os experimentos podem ser feitos apenas
quando você não participa, podem ser feitos apenas com objetos.
A
vida não é um objeto; é o próprio cerne da subjetividade. Quando você
faz experiências, é diferente. Quando você vive, unifica-se. Assim, o
homem religioso diz: "A menos que você se unifique com a vida, nunca
poderá reconhecê-la." Como poderá você conhecê-la do lado de fora? Você
pode andar e rodear de um lado para o outro, mas nunca acertará no alvo.
Assim, o homem de fé não se atém nem a experimentos nem a pensamentos,
mas à experiência, à simplicidade, à confiança.
Os
ministros pesquisaram e encontraram esses três homens que foram, então,
chamados à capital para a decisão final. O rei disse: "Por três dias
descansem e preparem-se. Na manhã do quarto dia o exame final será
realizado. Um de vocês será escolhido e se tornará meu
Primeiro-Ministro: aquele que provar ser o mais sábio."
Eles
começaram a trabalhar cada um à sua própria maneira. Três dias não eram
suficientes! O cientista teve de pensar em muitos experimentos e
trabalhar neles. Quem sabe que tipo de exame seria? Assim, não pôde
dormir por três dias, não havia tempo; além disso, teria toda a vida
para dormir depois que fosse escolhido. Então, por que se preocupar em
dormir? Ele não dormiu nem comeu nada -- não havia tempo o suficiente.
Muitas coisas tinham de ser feitas antes do exame.
O
filósofo começou a pensar; muitos problemas tinham de ser resolvidos:
"Quem sabe que tipo de problema será apresentado?". Apenas o homem
religioso continuou à vontade. Ele comeu e comeu bem. Apenas um homem
religioso pode comer bem porque a comida é uma oferenda, é algo sagrado.
Ele dormiu bem. Ele orava, sentava-se no jardim, passeava, olhava as
árvores e era grato à Deus; porque, para um homem religioso, não existe
nenhum futuro, nenhum exame final. Todo o momento é o exame final, então
como preparar-se para ele? Se algo está no futuro você pode se
preparar. Mas se algo está aqui, agora, como pode se preparar para isso?
Você tem de enfrentar a situação. E não existe nenhum futuro.
Algumas
vezes o cientista dizia: "O que você está fazendo? perdendo tempo --
comendo, dormindo, rezando. Você pode fazer suas preces depois." Mas o
homem religioso ria e não respondia nada, ele não era um homem de
argumentos.
O
filósofo dizia: "Você fica dormindo, sentado lá fora no jardim, olhando
para as árvores. Isso não irá ajudá-lo. O exame não é uma brincadeira
infantil. Você tem de se preparar para ele." Então o religioso ria. Ele
acreditava mais no riso do que na lógica.
Na
manhã do quarto dia, a caminho do palácio para o exame final, o
cientista não estava nem mesmo em condições de andar. Estava tão cansado
por causa de seus experimentos que era como se toda a vida estivesse se
esvaindo. Ele estava morto de cansaço, como se a qualquer momento
pudesse cair e dormir. Seus olhos estavam sonolentos e sua mente
pertubada. Estava quase louco!
E
o filósofo? Não, não estava cansado, mas sentia-se mais incerto que
nunca. Ele havia pensado, pensado; discutido, discutido; e nenhum
argumento chegava a qualquer conclusão. Ele estava confuso, perturbado,
num caos. No dia em que chegara poderia ter respondido a muitas
questões, mas agora não. Até mesmo suas respostas certas tinham se
tornado incertas. Quanto mais você pensa, mais a filosofia se torna
inútil. Apenas os tolos podem acreditar em certezas. Quanto mais você
pensa, mais inteligente fica, melhor vê que todos os pensamentos são
apenas palavras, sem nenhuma substância. Muitas vezes ele quis voltar
atrás porque isso não seria de nenhuma serventia. Ele não se sentia em
boas condições. Mas o cientista lhe disse: "Venha! Vamos tentar! O que
você irá perder? Se nós vencermos, tudo bem. Vamos tentar, não seja tão
desanimado."
Apenas
o homem religioso caminha feliz, cantando. Ele podia ouvir os
passarinhos nas árvores, podia ver o sol surgindo, podia ver os raios do
sol nas gotas de orvalho. A vida toda era um milagre! Ele não estava
preocupado porque não haveria nenhum exame. Ele iria e encararia a
situação. Iria simplesmente para ver o que ia acontecer. Ele não estava
esperando por nada, não tinha expectativas; estava saudável, jovem, vivo
-- e isso é tudo. Só desse modo é que uma pessoa pode se aproximar de
Deus; não com fórmulas prontas, não com teorias prontas, não com
montanhas de trabalhos de pesquisa experimental, não com títulos e
títulos de doutoramento. Não, isso não auxilia. As pessoas devem ir para
o templo assim: cantando e dançando.
Se
você estiver alerta, poderá responder a qualquer coisa que vier, porque
a resposta virá por meio da vida, virá por meio do coração e o coração
está preparado quando você está cantando, quando você está dançando...
quando você está celebrando.
E
eles chegaram. O Rei havia arquitetado algo muito especial. Eles foram
levados a uma sala onde havia sido montada uma fechadura, um enigma
matemático. Havia muitas figuras na fechadura, mas não havia nenhuma
chave. Aquelas figuras tinham de ser dispostas de um certo modo. O
segredo estava nisso, mas a pessoa teria de procurar e encontrá-lo. Se
aquelas figuras fossem dispostas de um determinado modo, a porta se
abriria.
O
Rei colocou-os dentro da sala e disse: "Este é um enigma matemático, um
dos maiores já conhecidos. Agora vocês terão de encontrar o segredo.
Não existe nenhuma chave. Se vocês puderem encontrar o segredo, a
resposta para este quebra-cabeça matemático, a fechadura se abrirá. E o
primeiro a sair desta sala será o escolhido. Agora, podem começar." Ele
fechou a porta e foi-se embora.
Imediatamente
o cientista começou a trabalhar sobre o papel: muitos experimentos,
muitos cálculos, muitos problemas. Ele olhou, observou as figuras no
cadeado. Não havia tempo a perder, era uma questão de vida ou morte. O
filósofo fechou seus olhos e começou a pensar em termos matemáticos
sobre o que fazer, como decifrar o enigma. O enigma era totalmente novo.
Este
é o problema: com a mente, se algo é velho, a resposta pode ser
encontrada; mas se algo é absolutamente novo, como resolvê-lo por meio
da mente? A mente é muito eficiente com o velho, com o conhecido, com o
rotineiro, mas é totalmente incapaz diante do desconhecido.
O
homem religioso nem se aproximou da fechadura. Que poderia ele fazer?
Ele não sabia matemática, não conhceia nenhuma ciência experimental. O
que poderia fazer? Ele apenas se sentou num canto. Cantou um pouco, orou
a Deus, fechou seus olhos. Os outros dois pensaram: "Ele não é um
concorrente. De certo modo, isso é até bom porque a escolha terá de ser
decidida entre nós dois." Então, de repente os dois perceberam que ele
havia deixado a sala. Ele não estava lá. A porta estava aberta!
Mas eles perguntaram: "Como? Mas ele não fez nada!"
Então quiseram saber do homem religioso: "Como?"
Ele
disse: "Eu estava apenas sentado. Comecei a rezar e então um voz
interior me disse: 'Que tolo! Vá até lá e olhe. A porta não está
fechada.' Então fui até a porta. Ela não estava fechada. Não havia
nenhum problema para ser resolvido. Então eu saí."
(Este conto foi extraído do livro Nem Água, nem Lua - Osho)
E então, já se perguntou se a porta esta fechada?
Namastê!
Luz Verde
Rafa Self
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